Lua Nova (assista ao trailer e veja as fotos), que quebrou recordes de bilheteria no último fim de semana (leia quadro ao lado), não é grande cinema. Nem pretende ser. Existe porque o livro no qual foi baseado é um best seller internacional. Vendeu zilhões de cópias no mundo todo, assim como os outros volumes da quadrilogia da qual faz parte. Tendo isso em mente, torna-se mais fácil falar do longa, que não é nem um pouco ruim. Ao contrário: cumpre com relativa graça e competência técnica a missão de agradar os fãs da Saga Crepúsculo. E é melhor do que o primeiro episódio da série.
Convencionou-se pensar nos livros e filmes da saga como “histórias de vampiros”, o que não deixam de ser de certa forma. Mas, em Lua Nova, percebe-se que as criaturas da noite que se alimentam de sangue, embora centrais na trama, são menos importantes do que Bella, a supernormal e ainda mortal protagonista, vivida no cinema pela expressiva Kristen Stewart, jovem atriz que já havia chamado a atenção, ainda menina, no thriller Quarto do Pânico e Na Natureza Selvagem.
Tanto Crepúsculo quanto o novo filme têm suas narrativas construídas em torno da personagem, uma jovem romântica, inteligente, solitária e pouco atraída por modismos e outras armadilhas do cunsumismo. Enfim, uma outsider. Nada mais natural, portanto, que se apaixone pelo belo e misterioso Edward Cullen (o britânico Robert Pattinson), um vampiro politicamente correto e algo atormentado que pertence a um secto que se recusa a se alimentar de sangue humano. Igualmente explicável é o fato de Bella, entediada com seus colegas de escola, convencionais e imaturos demais, tomar como melhor amigo Jakob Black (Taylor Lautner), pertencente a uma linhagem de índios do noroeste dos Estados Unidos, que se transforma em lobos gigantescos quando atinge a adolescência e a maturidade sexual. Outro desajustado, por conseguinte.
O grande mistério por trás do sucesso da Saga Crepúsculo, portanto, talvez seja explicado melhor por razões mundanas do que sobrenaturais. Muitos jovens, como Bella, Edward e Jakob, se sentem à margem do que se convenciona chamar de “normalidade” e acreditam esconder, nas profundezas de suas atormentadas existências, monstros incompreendidos.
Dentro dessa lógica, Lua Nova, apesar de ser uma adaptação quase literal do livro que o originou, encanta quem nele busca abrigo, refúgio, ainda que fantasioso.
É palpável a dor de Bella, abandonada por Edward quando este percebe que ela corre risco de morte estando a seu lado. Seu mergulho na depressão é compreensível no caso de uma jovem que se sente em descompasso com o mundo ao seu redor e se vê abandonada. E também se justifica seu quase idílio com o amigo Jakob, agora transformado em indesejado objeto do desejo por conta de vários quilos de músculos bem definidos e uma natureza protetora e solidária, além de viril.
Lua Nova, visto através de olhos adultos mais cínicos ou irritados, que nele buscam traços da tradição do cinema de terror, é uma bomba. Mas seu público-alvo, que nem sempre é adolescente mas se sente como um, ama, interage, vibra. Isso também é cinema e negar-lhe esse mérito é um erro.
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